polmarcom2.jpg (12647 octets) A poluição do litoral por macro-resíduos

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         A POLUIÇÃO DO LITORAL POR MACRO-RESÍDUOS

        O problema principal do Mediterrâneo é a ausência de correntes e marés fortes. Outro problema, é a crescente população costeira e o excessivo afluxo turístico sazonal. É preciso por isso gerir os resíduos daí resultantes, o que apenas começou a ser feito há pouco tempo (cerca de 15 anos). Os municípios costeiros não se encontravam bem equipados a nível de estações de tratamento de águas residuais, incineradoras, ou sistemas de limpeza do litoral. Servindo assim, o pobre Mare Nostrum, de exutor submarino tanto para resíduos urbanos como para resíduos industriais. Actualmente, através da cooperação intermunicipal, praticamente todos os municípios se encontram equipados com o objectivo de reduzir o impacto da pressão antrópica e dos resíduos por ela originados. No entanto este objectivo está longe de ser alcançado no litoral mediterrânico. A vigilância tem de ser diária por duas razões principais: a corrente Ligúrica e a falta de civismo de quem frequenta o litoral.


Abençoados vizinhos italianos


        Não é minha intenção atirar a primeira pedra. O que não me impede de juntar algumas pedrinhas. A corrente Ligúrica vinda de noroeste, que contorna o golfo de Génova e áreas próximas, em Itália, distribui-nos tudo aquilo que junta à sua passagem. Primeiras áreas afectadas; os Alpes-Marítimos que se vêem obrigados a limpar constantemente praias e enseadas, Var que investiu em ancinhos e máquinas para limpeza das praias, Bouches du Rhône que começa a fazer má cara, e finalmente, Hérault onde os macro-resíduos se tornaram numa grande preocupação. Bem, passemos ao âmago da questão.


Macro-resíduos e hidrocarbonetos

        Quando se fala em macro-resíduos, pensa-se frequentemente nos detritos resultantes da acção humana que encontramos nas praias, lembramo-nos menos dos detritos «naturais», ou seja dos pedaços de madeira e folhas mortas das posidónias. Mas se há um tipo de macro-resíduos em que nem sempre se pensa, são os hidrocarbonetos que não deixam de ser, contudo, os mais prejudiciais!
Diversos municípios mediterrânicos, nomeadamente da Córsega, queixam-se das grandes quantidades de alcatrão que dão à costa. Este alcatrão, praticamente inalterado, dá à costa sob a forma de pequenas bolas provenientes das manchas resultantes do deslastre de navios por capitães pouco escrupulosos. Contudo, a convenção internacional MARPOL que regulamenta os despejos dos navios no mar, classificou o Mediterrâneo como «zona especial». Significando que é proibido qualquer despejo no mar, seja qual fôr a sua natureza (lixo doméstico, hidrocarbonetos, etc.)!
Proibido... Isso parece não significar grande coisa para determinados capitães que efectuam a desgaseificação antes de chegarem ao porto ou depois de já estarem ao largo. Se é verdade que não existe uma solução «milagrosa» para limpar as praias do alcatrão que dá à costa, existe no entanto desde há pouco tempo forma de prevenir este tipo de poluição. O programa «OILWATCH» no qual participam activamente cinco países europeus (França, Itália, Espanha, Portugal e Grã-Bretanha), permite actualmente detectar manchas de hidrocarbonetos via satélite (Radarsat & ERS2), bem como a sua utilização pelas autoridades competentes na luta antipoluição marinha. O tratamento rápido das imagens recebidas via satélite permite lançar o alerta e utilizar os recursos das Autoridades Aduaneiras Francesas no Mediterrâneo (na zona de vigilância francesa) para confirmação, e se possível constatação de flagrante delito. Entre 01.02.98 e 31.08.98 (primeira parte da fase piloto do programa), o satélite Radarsat detectou 51 descargas de petróleo em 25 imagens repartidas pela zona mediterrânica desde o golfo de Lion até ao golfo de Génova. No mesmo período, o avião especializado POLMAR 2 das Autoridades Aduaneiras Francesas detectou na zona de vigilância francesa 59 manchas no decurso de 29 vôos ! Visto que, a fiabilidade na detecção de manchas de poluição e o tratamento das imagens via satélite tem vindo, constantemente, a aumentar, os intervenientes no programa concentram-se agora em incrementar a rapidez de actuação e a frequência das observações, agilizando procedimentos, com o objectivo de surpreender navios em flagrante delito, enviando ao sítio certo, no momento certo, uma autoridade competente. O receio de ser supreendido pelas autoridades terá certamente como efeito, a redução do número de desgaseificações e consequentemente do risco de poluição do litoral por hidrocarbonetos.


Subavaliação dos inconvenientes causados pelos resíduos abandonados


        A inexistência de uma definição sobre o carácter poluente dos macro-resíduos conduz a uma avaliação fortemente subjectiva dos mesmos por parte de Entidades públicas ou privadas. Estes resíduos são então abandonados, frequentemente com a ideia de "não serem poluentes" - foi dita a «palavra mágica». Conduzem no entanto à degradação da paisagem, provocando danos no meio ambiente e custos elevados para a sua recuperação.

 

       

Resíduos resistentes em circulação constante

        Os macro-resíduos podem ser motivo de lutas importantes, mas também podem tornar-se progressivamente parte da paisagem se não forem tratados (zonas de díficil acesso, baixios). Determinados tipos de detritos (vidros, plásticos, metais) resistem durante muito tempo. Entre estes detritos, os plásticos, a madeira, as folhas das posidónias, etc., têm uma densidade que lhes permite flutuar e, arrastados pelas correntes, dar à costa. Podem afundar-se, ser novamente postos em circulação pelas tempestades e, de novo, dar à costa. As chuvas abundantes e as enchentes das bacias hidrográficas podem igualmente contribuir para a chegada de detritos ao meio marinho. O litoral é um receptor por natureza. Estas deslocações cíclicas revelam o seu impacto local, nacional e internacional. A problemática dos macro-resíduos no litoral faz com que cada um de nós reconheça o seu papel na degradação do ambiente. . .


                                               Isabelle POITOU "Mer et Littoral"





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